
O que acontece quando o passado industrial de uma cidade se torna matéria-prima para o seu futuro? Nordhavn, em Copenhague, transforma o antigo porto em um laboratório vivo de urbanismo sustentável, onde galpões e armazéns dão lugar a distritos independentes, ilhotas e canais que redesenham um novo modo de habitar.
Localizado a apenas 4 km do centro da capital, Nordhavn começou sua metamorfose em 2008, quando pensar em sustentabilidade social, econômica e ambiental ainda era algo visionário. Hoje, 17 anos depois, o distrito revela um cenário vibrante moldado por projetos de grandes escritórios como COBE e BIG.
O resultado é uma paisagem onde armazéns reformados dialogam com edifícios novos e reluzentes, inseridos em terrenos fragmentados que mantêm a escala acolhedora característica de Copenhague. Novos canais cortam a paisagem, evidenciando a conexão profunda de Nordhavn com a água — uma relação que alimenta antigos hábitos dinamarqueses, como o prazer de nadar ao ar livre, mesmo sob o frio intenso do inverno.
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Planos ambiciosos para uma área portuária: redefinindo a imagem de Copenhague no mundo
Em setembro, a Bienal de Arquitetura de Copenhague estreou com o tema "Desacelere", debatendo o papel da arquitetura diante das mudanças globais, ocasião onde foi lançada a 5ª edição do Next Practices Awards do ArchDaily, consolidando o status da cidade como um polo para o pensamento arquitetônico contemporâneo. Essa vocação, no entanto, tem sido construída ao longo das últimas décadas, com Nordhavn como grande representação da imagem que Copenhague deseja passar para o mundo.

No início dos anos 2000, o bairro de Nordhavn foi planejado para ser um grande centro empresarial, inspirado nas Docklands de Londres. A ideia era que apenas 40% da área fosse destinada a moradias, com o restante ocupado por escritórios. No entanto, segundo a arquiteta-chefe de Copenhague, Tina Saabi, o projeto evoluiu: surgiram iniciativas culturais e sociais que mudaram a visão original.
O que antes era uma área industrial e porto franco por mais de um século, iniciou sua transformação para atender ao crescimento de Copenhague. Um plano ambicioso que prevê moradias para 40 mil pessoas e empregos para outras 40 mil ao longo de 40 anos. Atualmente, cerca de 6 mil pessoas já vivem na região.

Estratégias de projeto: como criar um distrito vibrante e sustentável
Desde o início foram identificadas algumas prioridades para o desenvolvimento de Nordhavn: o respeito pela rede hídrica existente por meio da criação de ilhas e canais, um planejamento urbano inteligente que permite o acesso a todas infraestruturas básicas em 5 minutos de caminhada, a preservação da identidade e valor cultural da região, e a neutralidade em carbono. Grandes escritórios de arquitetura como COBE, RAMBØLL, SLETH, Sangberg e outros estiveram envolvidos no projeto de Nordhavn.
Em termos arquitetônicos, Tina Saabi explica que o conceito de Nordhavn baseia-se em edifícios médios para garantir luz natural, torres contrastando com construções de tijolo vermelho e ruas estreitas e acolhedoras que criam um ambiente harmonioso. Nesse contexto, destacam-se projetos como o antigo celeiro de 62 metros — o maior edifício industrial de Nordhavn — transformado em 38 apartamentos pelo escritório COBE, e o Konditaget Lüders, o primeiro estacionamento da Dinamarca com um espaço urbano ativo na cobertura. Não por acaso, BIG escolheu estabelecer sua sede justamente em Nordhavn.

Trata-se de uma escala urbana onde os carros não são bem-vindos, estratégia possibilitada pela rede de transporte que prioriza pedestre e ciclista, unindo dois objetivos, sustentabilidade ambiental e social. Esta última fortalecida pela ideia elementar do ser humano: o contato com outras pessoas.
E esta parece ser a grande preocupação de Nordhavn, vista não apenas nas estratégias de mobilidade, mas abrangendo inclusive uma curadoria dos comércios instalados nos térreos dos edifícios. Entre mercearias e lojas sofisticadas, redes como Starbucks, McDonald's ou Zara estão ausentes isto porque a administração municipal de Nordhavn é propositalmente proprietária desses espaços térreos, garantindo a escolha de lojas que pudessem ajudar a criar esse ambiente urbano vibrante. Algo como um resgate do passado, onde pequenos comércios especializados davam vida às ruas em uma diversidade de usos e encontros. Tudo acessível em apenas 5 minutos.

Incertezas de um urbanismo de vanguarda
No entanto, todo esse investimento vanguardista levanta questões inevitáveis. Nordhavn já é o metro quadrado mais caro da Dinamarca — cerca de DKK 58.000 (7.766 euros), aproximadamente 20% acima da média de Copenhague. Essa valorização, somada ao conceito de "cidade de cinco minutos", onde tudo deve estar ao alcance, pode acabar gerando exclusão e segregação. Para Anne Skovbro, diretora da empresa pública que administra Nordhavn, a chave está na habitação social: a meta é que ao menos 30% das moradias sejam destinadas a aluguéis acessíveis — algo que, por enquanto, ainda não se concretizou.
Ainda assim, as questões que acompanham uma iniciativa tão vanguardista não ofuscam a qualidade urbana e arquitetônica alcançada em Nordhavn, como exemplo disso, a seguir, apresentamos dez projetos icônicos que ilustram essa transformação.

Estações de Metrô Orientkaj e Nordhavn / Cobe + Arup

Cinema BIG BIO Nordhavn / Arkitema

Park 'n' Play / JAJA Architects

O Silo / Cobe

Copenhagen International School Nordhavn / C.F. Møller

Parque e Sede Piranesian / BIG

Kronløb Island / Vilhelm Lauritzen Architects + Cobe

Estacionamento Casa de Madeira / Vilhelm Lauritzen Architects

The Krane / Arcgency

UN City / 3XN






















